Ontem à noite choveu muito, chuva forte, com raios a cada dois minutos. No céu, os barulhos dos trovões gritavam alto junto com o assovio dos ventos. Na cama, o clarão invadia a janela sem cortina.
Rompendo o silencio do quarto ela me perguntou: Você não tem medo?
Ainda de costas retruquei: Medo do que?
– Dos raios.
– Não, até acho bonito.
Ela se aconchegou no escuro e indagou:
– Do que você tem medo?
– De ficar sem dinheiro.
– Nenhum outro medo? De barata, da morte, não tem nenhuma resposta melhor do que dinheiro?
– Não tenho problema com baratas e acho que morrer agora seria bem ruim, mas não tenho exatamente medo de morrer. Acho que tenho medo de não conseguir viver o que está por vir.
– E do amor? Você tem medo do amor?
Depois de um breve silencio, entendendo a pergunta, respondo.
– Acho que ninguém tem medo do amor. As pessoas têm medo de sofrer, de se decepcionar, de que tudo dê errado… Mas não do amor. Não de amar.
Ela colocou a mão sobre o meu rosto, se inclinou, me deu um beijo e disse:
– Não perguntei das pessoas, perguntei de você.
Abri os olhos no escuro e fiquei pensando se realmente conseguiria suportar a vida se ela não existisse mais. Tenho transtorno depressivo persistente e muito medo de não conseguir me amar sabendo que só ela consegue resgatar o melhor em mim.
Texto por:
RICARDO MARUO
Diretor de planejamento estratégico digital da Área Comunicação. Atua a mais de 20 anos no mercado digital, principalmente nas áreas de inovação, data science e novos negócios. Palestrante profissional, professor na PUC-SP, especialista em psicologia comportamental e criador do projeto Mulheres Digitais.