Vamos conversar sobre fragilidade, ela disse quando começamos a sessão.
Nunca fui bom em expor minhas fraquezas, lembro que até
hoje escondo o quanto tenho problemas em aceitar elogios, pois não acredito que
seja merecedor. Não que eu não entenda o potencial que cada pessoa pode ter, o
ponto é que ainda é difícil entender o potencial que eu posso ter.
Quando tinha 5 anos fiz um desenho e entreguei à minha mãe.
Ela olhou, elogiou e colou na porta do armário para que todos pudessem apreciar
a obra prima de seu filho. Mas, todas as vezes que eu passava e olhava, me
vinha a ideia de que eu poderia ter entregado um desenho bem melhor. E isso me
frustrava bastante.
Antes da pandemia uma conhecida disse que minha vida era
quase perfeita e aquilo me ofendeu muito. Mas a revolta era comigo, não com
ela. Pensava nas inúmeras vezes que fracassei e tive vergonha de contar. Nas
inúmeras vezes que quis desistir de tudo, desistir de cursos, de trabalho, de
faculdade, desistir dos outros, desistir de mim.
Sempre achei que o diálogo é a parte mais importante para
qualquer relacionamento, mas este é um discurso muito bom para os outros. Para
mim dava preguiça e uma exposição sem nenhuma necessidade.
Não tenho problemas em dizer te amo, menos ainda em dizer
que não gosto de alguém. A questão sempre fica nas nuances, o máximo de
resposta negativa que você vai ter ao me perguntar se está tudo bem é “tô
levando”. Sempre atribuí isso ao fato de achar que a vida tem um modo
operante que favorece bastante quem não se abre muito.
Voltando à sessão, minha analista disse que desnudar é
muito mais difícil que tirar a roupa. Revelar nossas fraquezas, nossos medos
mais simples, é oferecer ao outro um poder enorme sobre nós. E isso é
assustador. Mas é bom não esquecer que é uma das formas mais fluídas de
liberdade. E continuo tentando encontrar um jeito de ser um pai que não tive. E
quem sabe, um homem com menos medo das fragilidades.