TOCA O SURDO

Um Brasil sem carnaval fica um pouco sem tempero, fica meio insosso. Brasil com gosto bom é com carnaval e futebol. É claro que não é apenas isso, mas, reconheçamos, quando
falam do Brasil no exterior, lembram logo das nossas qualidades culturais e
futebolísticas. Tudo bem que essa última nem tanto, porque ainda está difícil,
para o mundo!, engolir aqueles 7 a 1. E, passados quase sete anos, ainda me
pergunto: o que foi aquilo, minha gente?

Com goleada na Copa de 2014, descoberta da vacina contra a covid em 2020, chegamos em fevereiro 2021.
E, quem diria, sem carnaval! Mesmo para aqueles que preferem, como eu, ficar
reservados, longe do tititi das avenidas e dos blocos carnavalescos, só o fato
de saber que não há aquela confusão (no bom sentido), que não há agitação que
colore caras, fantasia corpos e sai por aí espalhando a alegria dos tons e
sons, parece que fica faltando algo que aviva a alma do país.

Um Brasil sem carnaval deixa o gosto do desejo e, mesmo que eu não participe ou saia por aí vestida de acordo com as asas da minha imaginação, me faz falta a felicidade alheia,
daqueles que se envolvem e se entregam aos festejos do Rei Momo. É contagiante
a alegria de quem se embriaga com brindes de contentamento que parecem ser
proporcionados por Baco, o deus do vinho e da alegria.

O carnaval é a apoteose da alegria, é onde ela se encontra. Mas é preciso dizer também que, para quem
tem a alegria da festa dentro de si, mesmo não havendo os desfiles e as
passagens dos blocos pelas ruas da cidade, o ano inteiro tem micareta dentro do
coração. E não é porque a festa não foi realizada neste ano que perde o
sentido, porque ela é também estado de espírito.

Mas um Brasil sem carnaval fica, culturalmente, menos imponente e, socialmente, um pouco menos
inclusivo, porque o carnaval, apesar dos camarotes requintados, da venda dos
caros abadás e das apresentações luxuosas de fantasias em salões
restritíssimos, é a festa mais popular do país.

O carnaval é agregador,
porque sempre tem a pipoca (a folia gratuita para o povo), onde todos podem
pular juntos e somar as alegrias. O carnaval proporciona o encontro de almas,
amor de um dia só ou para a vida toda. É amizade do Oiapoque ao Chuí, porque
vem gente de todo canto: dali e daqui. Carnaval é porre, é gente chata (mas tem
que ter), gente legal; carnaval é de todas as gentes, de todas mesmo, do mundo
todo. Libertação de desejos, é lugar onde inexistem os julgamentos e onde menos
cabe a rixa entre sagrado x profano.

Onde tem carnaval não
tem mimimi, não tem ai meu pé. No carnaval vai quem quer.

Dito isso, amigo folião, nem pense em calar o samba. Lembre-se da micareta que mora no coração e vá ensaiando. 2022 é logo ali. Vai ter carnaval do bom pra brincar, o melhor de
todos os tempos.

Se prepara para a marcação e comanda a bateria. Toca o surdo, dá o tom, solta o som, Emerson, nosso folião! Em 22 vai que eu também vou. Quem quiser que nos acompanhe!

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SILENE SANTOS

Jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP), possui pós-graduação em Globalização e Cultura pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Possui 23 anos de experiência em Comunicação Social e atua no Atendimento às contas públicas da Área Comunicação.

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