“Ah! Isso é muito clichê!” Na verdade, muitas coisas na vida são clichês, a começar pela própria frase. E se é clichê é porque funciona, já disseram. E seguindo a onda, quantas vezes já nos deparamos com essa: “nada se cria, tudo se copia”? Muitas, com certeza!
Clichê, no sentido figurado, é uma ideia que foi bastante repetida na fala ou na escrita, um chavão. Etimologicamente, a palavra clichê tem origem no francês “cliché”. São sinônimos da palavra “clichê” e quer dizer lugar-comum, repetido, chavão, comum e previsível.
Apesar de funcionar em muitos casos, como na publicidade, é justamente disso que os criativos fogem. Do lugar-comum. Claro que criar algo completamente novo é quase impossível, pois toda ideia que surge, já nasce de alguma coisa que conhecemos. Quem trabalha com qualquer tipo de criação sabe o medo e a angústia que dá a tela ou o papel em branco, esperando o primeiro sinal da ideia. Ao mesmo tempo, o sabor do desafio e a ansiedade boa de poder fazer algo legal e DIFERENTE, é o que nos move. Diferente é a palavra.
Mas como fazer algo diferente num mundo onde parece que tudo já foi feito?
Como já disse, as ideias surgem daquilo que conhecemos, portanto, quanto mais conhecemos, mais podemos ter ideias. E é aqui que entram as referências. Elas estão aí, em todos os lugares. Todo mundo sabe. Clichê!
Cinema, literatura, teatro, museus, viagens, lugares novos…
“As referências estão lá fora!”, conheci um redator que dizia isso. Sempre que der, saia da sua mesa, da frente do seu computador, as melhores ideias surgem para além disso. Mas será que só isso basta? Com certeza, não!
Até porque outras pessoas também vão a museus, viajam para o mundo todo, pesquisam. Sem falar que críticos de cinema nos entregam de bandeja as melhores análises sobre os filmes, existem programas de TV que falam sobre todos os assuntos e o Google, que está aí pra tudo e para todos. Ou seja, se todo mundo tem acesso às mesmas referências, então como se diferenciar? Tentando e descobrindo o seu jeito. Com o tempo você terá o seu próprio método.
Além da sua visão sobre as coisas, que é só sua e por isso mesmo já é diferente, busque ir ainda mais além! Por exemplo: quando for a um museu, converse com as pessoas sobre as obras e exposições, pergunte às crianças e adolescentes o que eles acharam, observe o comportamento de cada um. Observar e conversar com pessoas diferentes é enriquecedor. Fazer isso já é ir além e vai aumentar seu repertório. Aliás, se você tiver crianças em casa ou por perto, aproveite! Elas são uma fonte riquíssima. Para elas, tudo é tão simples como: “Mamãe é só despregar o que tá pregado”. (Maria Carolina, minha filha, quando tinha 4 anos).
E não esqueça, quando sair de casa fique atento a tudo, pois tudo pode ser referência.
Posso afirmar que “Sobre como ser mais criativo”, já li bastante, ouvi palestras, vi infográficos e tenho até uma listinha aqui resumida de tudo o que aprendi e achei interessante para mim:
1 – Quase sempre descarte a primeira ideia – provavelmente, ela é a mais comum e outros já fizeram (atenção aqui: comum é diferente de simples, porque o simples, na maioria das vezes pode ser genial).
2 – Pergunte sempre: E SE…. | E se eu invertesse essa ordem? | E se tivesse que fazer a minha filha de 7 anos entender essa mensagem? | E se isso fosse cantado? | E se eu saísse daqui (porque já fiz 5 campanhas com esse tema e não sei mais o que pensar) e fosse para rua perguntar o que as pessoas acham sobre esse assunto?
O E SE parece comum, mas muitas vezes na correria do dia a dia esquecemos dele. E se ele ajuda? Ô!
3 – Mude os caminhos e conheça lugares novos. Frequente tribos e estilos diferentes.
4 – Anote, fotografe, marque. Você estará montando o seu próprio banco de referências. Olhe e releia sempre.
5 – Junte tudo isso e misture as coisas. Faça conexões, uma coisa que não tem nada a ver com outra, quando juntas, podem dar um bom caldo.
6 – Quando nada funcionar. Pare! Dê um tempo, esqueça, parta para outro job. Quando menos você esperar, aquela ideia vai surgir. Algumas delas precisam de um tempo de maturação em nossas mentes para desabrocharem.
É por isso que é importante ter muitas referências, quanto mais você tem, mais possibilidades de poder conectar coisas. E quanto mais você conecta, mais craque você fica.
No meu processo criativo como publicitária, misturo tudo isso que já citei e busco mais. Sempre pode existir uma nova situação e procuro estar atenta. Afinal, isso é o que eu faço todos os dias e antes de tudo, precisa ser legal.
Já como poeta (e aqui abro um parêntese: quem dera ser de fato uma poeta. Mas, se de certo modo poesia é o que vem da alma, eu só obedeço e coloco para fora), eu escrevo quando as palavras chegam. Sim são elas que mandam em mim. Muitas vezes sento e quero escrever alguma coisa, quase nunca sai algo interessante. Na semana seguinte estou no chuveiro, ou no carro e pum! A poesia vem inteira!
Bem, eu acredito que desse modo, aumentando a sua quantidade de referências, ouvindo e observando pessoas, lendo de tudo, indo ao teatro, museu, cinema, circo e seguindo o seu processo criativo (porque cada um tem o seu), e todos esses clichês, com certeza você será um profissional melhor.
Tá, mas fazer tudo isso pra entregar o job daqui a dois dias??? Não se espante. Às vezes é para o dia seguinte ou para o mesmo dia! Infelizmente essa é uma realidade para muitos criativos e não é fácil ter boas ideias nessas condições. “O trabalho vai ter a cara do prazo”. Clichê de novo!
Mas, esse eu adoro! Porque ele é um dos mais verdadeiros. Não que o trabalho para amanhã será mal feito. De jeito nenhum! Para o criativo, cada trabalho seu é como um filho. Mas se tivesse mais tempo seria melhor. Sem dúvida! Quando o assunto é criação, eu repito: SEM DUVIDA! Não é fácil, mas é trabalho do criativo, estar sempre em busca de uma chama nova em alguma referência que faça sentido para determinado job.
E tudo isso vale para qualquer profissão. Por que só o publicitário, o pintor, o artista, o cantor… podem ser criativos? Por que o engenheiro, o frentista, o soldado, a enfermeira, os motoristas não podem? Criatividade pode ser desenvolvida, desabrochada, recuperada. Clichê? Talvez! Mas eu acredito nisso.