Semana retrasada tivemos nossa primeira viagem em família. Desde
o nascimento da minha filha (seis meses atrás) essa foi a primeira vez que
viajamos todos juntos. O problema é que passei mal e acabei estragando todo
passeio.Fiquei com muitas dores no corpo e passei a maior parte da viagem
deitado.Voltamos e fiquei mais uma semana sem poder segurar minha filha
no colo.
Me senti um verdadeiro inútil vendo minha esposa cuidar da
nossa filha sem eu poder fazer nada. Aí começou a bater a Síndrome do Pai
Impostor.
Pois bem, passado todo esse perrengue, sem dores e melhor da
saúde, ontem fui andar com minha filha aqui no condomínio. Minha esposa ficou
em casa, pois ela voltou a trabalhar e tinha alguns jobs para terminar. Ok.
Coloquei o canguru e vamos lá, filha! Vamos passear no condomínio.
Passados 10 minutos duas senhoras olham pra gente e falam:
“Ai que bonito, né? Um pai assim cuidando da filha.”
Mais 5 minutos e: “Que linda essa bebê. Tem a sua cara.” E mais: “E você trabalha em casa? Que sorte da sua esposa, né?! Aí você ajuda ela em casa”.
Enfim, o homem é tão privilegiado que para ser considerado um “pai exemplar” basta ele ter um bebê no canguru e não fazer absolutamente nada. Se fosse a minha esposa, era só a obrigação dela como mãe. Mas um pai?! Cuidando da filha?! Aí não, né amigo. Aí é algo muito raro! Essa régua é tão injusta que se eu trocar a fralda vão dizer que estou ajudando a
mãe. Se eu preparar a mamadeira, caracas (!), que pai maravilhoso! Agora se eu
fizer tudo isso e ainda lavar a louça, varrer a casa, terminar o job e for
carinhoso com minha filha, Senhor amado. Serei o pai do ano!
Em um país onde mais de 11 milhões de famílias são formadas
apenas por mães solo, a presença paterna é um ponto fora da curva.
E taca-lhe curva nessa definição, porque essa curva é tão torta,
mas tão torta, que a gente normalizou o que é errado. Eu deveria ser o pai
mediano, o pai comum. Eu deveria ser o normal e não o ponto fora da curva. Mas
como essa linha do equilíbrio é medida pelas coisas bizarras do patriarcado, é
isso que dá. Uma distorção enorme da realidade.
Na boa, não quero ser um exemplo para minha filha nivelado por
baixo. Assim é muito fácil ser um bom pai. Chegamos a um ponto onde o exemplo
de pai é aquele trabalha o dia todo, volta pra casa todos os dias e não bate
nos filhos. Como se tudo isso fosse algo extraordinário. Vocês não acham que
isso é nivelar muito lá embaixo?
Acredito que para ser um bom pai, antes é preciso ser uma boa
companhia, e para ser um bom companheiro é preciso ser um homem diferente. E
para ser um homem diferente é preciso repensar nosso papel dentro da
masculinidade que existe em nossas vidas.
Quem sabe assim a gente não cria novos homens exemplares?