ASTROTURFING: MANIPULAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA USANDO A MÍDIA

Já imaginou se o que você lê ou assiste na mídia não for realidade?  Se tudo for produzido especialmente para te manipular? Já teve a sensação de estar vivendo “O Show de Truman”? Já considerou a possibilidade de estar numa Matrix e questionou sua própria realidade?

Se você respondeu sim a algumas destas perguntas, saiba que seus questionamentos tem fundamento. É só investigar um pouco para descobrir que, atualmente, vivemos uma falsa realidade on-line que tem o objetivo de refletir diretamente em nossa vida off-line. A base para estas afirmações é a existência do astroturfing.

O termo é derivado de AstroTurf, uma marca de grama sintética projetada para dar a aparência de um gramado natural. O objetivo é mostrar que existe apoio, contra ou a favor, a um determinado assunto, quando na verdade não há. É quando interesses corporativos ou políticos criam uma narrativa especial, um conteúdo extremamente elaborado, para fazê-lo mudar de opinião. Anônimos, publicam em sites, blogs, redes sociais, escrevem comentários em posts, como se fossem um movimento autêntico, mas, na verdade, tudo foi estrategicamente pensado para fazer com que você leia, acredite e mude de ideia.

Para entender um pouco mais, vamos usar o exemplo fictício dado pela jornalista, autora e especialista no assunto, Sharyl Attiksson, ex-âncora da CBS, em sua palestra sobre o astroturfing. Imagine que você está vendo televisão e assiste uma matéria falando sobre uma nova droga para reduzir o colesterol, o Cholextra. A notícia diz que um estudo mostra sua alta eficiência e que os médicos deveriam receitá-la até mesmo para crianças que ainda não tem colesterol alto. Você fica curioso e vai pesquisar no Google, nas redes sociais, na Wikipedia e lê o estudo original numa revista especializada. Tudo confirma a eficácia do medicamento e, com exceção de uma pequena observação sobre câncer como efeito colateral, só encontra conteúdo favorável em relação ao Cholextra. Aliás, especialistas consideram a questão do câncer um mito.Você vai ao médico e ele conta que participou de palestras sobre o assunto, além de lhe dar amostras do remédio. Pronto, mais um consumidor do Cholextra foi criado.

O que você não sabe é que está fazendo parte de uma realidade fabricada. Você não imagina que, na verdade, os perfis nas redes sociais que davam relatos positivos sobre a droga, foram escritos por profissionais contratados pelo fabricante a fim de promovê-la. Não sabe que a página da Wikipedia foi paga para ser editada de acordo com os objetivos da empresa. E que os resultados nos mecanismos de busca, aqueles que falam bem do medicamento e da necessidade de uso, foram financiados e manipulados pela farmacêutica para aparecer na sua tela. Não sabe que a empresa também pagou por um estudo favorável à utilização da droga, sem mencionar o câncer como efeito colateral, e que médicos foram financiados e contratados como palestrantes para falar positivamente sobre o Cholextra, além de receitar o remédio. Pois é, até o momento, você não sabia que existia o astroturfing.

Além deste exemplo, Sharyl conta a história real sobre a investigação de um estudo lançado pela Fundação Nacional do Sono, que dizia estar ocorrendo uma epidemia de insônia nos Estados Unidos, sendo assim, todos deviam questionar seus médicos. “Pergunte ao seu médico” era o gatilho para uma realidade alternativa, na qual a ida ao consultório resultava na saída do local com uma receita médica em mãos. Não foi difícil investigar e descobrir que o tal estudo era uma pesquisa financiada pelo fabricante de uma pílula para dormir, a Lunesta. A epidemia de insônia nunca existiu.

Afinal, como não ser enganado e distinguir um movimento fabricado de uma situação real, saber o que é propaganda e o que é astroturfing? Primeiramente, preste atenção nas palavras, pois o astroturfing usa linguagem inflamada. Suspeite de mitos, já que uma das características deste mecanismo é criá-los.
Fique atento aos assuntos polêmicos ou controversos, que geram ataques às pessoas e empresas neles envolvidos, em vez de abordar os fatos.

Em síntese, questione, sempre. Não confie em todas as curtidas e compartilhamentos que vê por aí. Não replique conteúdos de origem duvidosa, pesquise.  E por fim, saia da Matrix. Sua vida off-line agradece!

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J.R. Pereira

Sócio da Área Comunicação, publicitário, diretor de arte e “rabiscador de textos" nas horas vagas.

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