Do pó viemos e para o pó voltaremos.
É o que Deus
teria dito a Adão quando soube que ele e Eva não haviam conseguido resistir ao
fruto proibido. Total sentido para ele, que havia sido modelado da argila e
recebido o sopro divino da criação. Para ela nem tanto, afinal, Eva não veio da
argila e nem do pó. Ao que parece ela nasceu de uma costela de Adão e,
portanto, a advertência divina, no sentido restrito da frase a ela não se
aplica.
É bom que lembremos aqui que argila é terra molhada. E terra é o pó mineral que reveste
uma grande parte da Terra, ainda que não a maior, já que 70% da superfície
terrestre é aquática, por assim dizer. Uma ironia semântica independente de sua
crença. Em Deus? Não. No formato da terra. Enfim, seja a Terra redonda ou
plana, o fato é que há mais líquido do que pó. E, de acordo com a sua crença, e
aqui sim estamos falando dele, que tenho certeza teria coisas mais importantes
para se preocupar do que com a grafia do pronome em minúscula, é para uma terra
representativamente minoritária que voltaremos.
Todos nós.
Talvez menos a Eva, que nasceu da Costela de Adão, termo que também dá nome a
uma planta latina de folhas gigantes e picotadas com visual bem adequado às
florestas tropicais. No rigor da nossa língua, um legítimo exemplar da família
Araceae.
Enfim, a natureza é assim mesmo, um emaranhado de coisas todas juntas. Onde há terra e
água há sempre condições apropriadas para nascer e crescer uma bela arácea.
O problema é que, quando cortamos essa conexão com a natureza, ficamos sem ter para onde ir.
Se da terra viemos, precisaremos de terra para voltar um dia. É o paradigma da
humanidade. Somos dependentes do meio que nos cerca do início ao fim.
Pertencemos ao ambiente e ele nos forma. Por isso, não faz nenhum sentido colocar lenha na
fogueira para ver a natureza pegar fogo. Se floresta arde a preservação urge.
Não importa se você descende do pecado original de Deus ou da seleção natural
de Darwin. Resumindo, a Amazônia em chamas aos olhos do outro não é refresco. É
burrice. Afinal, se a floresta morrer não teremos nem onde cair morto.</p>