O PODER DO SOM

O PODER DO SOM

“O sino da igrejinha faz belém-blem-bom”

Pouco se indaga sobre o poder do som em nossas vidas. Se olharmos para trás, pensamos que em cidades interioranas, o controle do tempo e da vida de muita gente se dava pelas igrejas.
O sino toca às 6h, hora de acordar.
O sino toca às 8h, missa matinal.
O sino toca às 18h, hora da Ave Maria.
O sino toca às 22h, hora de dormir.

Quem viveu no interior sabe o que é acompanhar um dia inteiro ao som das batidas do sino da igreja: são pelo menos 18.
É engraçado pensar que hoje, com tantas tecnologias que temos, um tempo atrás dependíamos da igreja para contar as horas. Mas mesmo com tanta tecnologia, muito da nossa vida ainda depende dos sons:
A mãe depende do choro da criança para saber que está com fome, com dor ou algo mais; o poder que a criança exerce sobre sua mãe está em um chorinho, que dá o tom do afago. Por sua vez, a criança encontra na voz da mãe o conforto para aflições que sequer conhecemos.
A memória dos povos tradicionais depende das vozes dos anciãos, para narrar simbolismos, folclore, disputas e resistência. Sem o poder dessas histórias, ainda acreditaríamos em histórias únicas, contadas por povos dominantes.
O som dos atabaques no terreiro, das vozes, do coral ou do órgão tocando potente nas Igrejas e Templos, potencializa a reza, cria a imersão espiritual e sintoniza, em uma só corrente.
O som das águas do mar, dos rios ou da cachoeira tem o poder de acalmar qualquer pensamento para aquele se preste a escutá-lo.
O som do apito da panela de pressão, de facas e garfos arranhando pratos, exercem poder sobre nossa fome.
As sirenes e helicópteros, para alguns, exercem força e medo àqueles que escutam, enquanto buzinas afligem e despertam raiva.
E tudo isso exerce poder sobre nossas vidas.

Nesse percurso de reflexão, te convido a pensar: e quem não escuta, qual o poder exercido sobre essas pessoas?

Enquanto isso, milhares de pessoas seguem para seus trabalhos com fones de ouvido nos transportes públicos ou caminhando a pé. Em silêncio, em uma concentração, escutando algo que nunca saberemos.

E voltamos aos sons.
Em pleno século XXI, afundados em tantas mídias digitais, em busca de conhecimento, afago, boas histórias e disputa de atenção, mal saberíamos que se fecharmos nossos olhos e prestarmos atenção, qualquer coisa antigamente poderia ser um podcast, até o sino da igreja.

 

Escrito por:
Aline Hack
Gerente de projetos com foco em planejamento e produção de produtos de comunicação digital. Organizadora do livro Feminismos e Podcast, o primeiro livro sobre o tema no Brasil. Prêmios UnbCast nas categorias Identidade e Divulgação e Menção Honrosa em Inovação, todos pelo Olhares Podcast. Consultora, palestrante e pesquisadora na área de Direito Digital e Direitos Humanos, militante pelo uso político das mídias digitais e possui mil ideias de projetos de podcast na cabeça.

 

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Nossos articulistas e redatores tem liberdade editorial. Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Área Comunicação.

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