Conseguir recriar a realidade, vestindo-a com a fantasia do sonho, a isto nós chamamos arte.
Fazer com que o espírito de quem entra em contato com a obra de arte – seja ela a música, a pintura, a literatura, o teatro, ou ainda o cinema, a dança e outras expressões artísticas – viaje para outro mundo, diferente daquele em que vive no seu cotidiano, é o trabalho do artista.
Mas não é uma diversão inocente. No dizer de Mário Vargas Llosa: “Porque ella atiza lá imaginacion y dispara los deseos de una manera tal, que hace crecer la brecha entre lo que somos y lo que nos gustaria ser, entre lo que nos es dado y lo deseado y anhelado, que es siempre mucho mas.”
Traduzindo livremente, é a arte que alimenta a imaginação e desencadeia nossos desejos, aumentando o fosso entre o que de fato somos e aquilo que gostaríamos de vir a ser, entre o que nos é permitido e o que é almejado. Ela é, portanto, aquele facho de luz que clareia ideias e afere entendimentos.
A arte, ao confrontar nossos sonhos com a realidade que vivemos, faz nascer a vontade de lutar, que transforma nossas vidas prisioneiras em vidas mais próximas de nossos sonhos.
Portanto, se vemos um governante operar contra a arte, creia, ele sabe o que faz. Ao não permitir o desenvolvimento da arte ele impede o sonho e mantém o povo acomodado e controlado. Quanto mais opressor o governante, maior o ódio deste pela arte, é o que nos mostra a história.
A arte que faz sonhar, que faz brotar a insatisfação e a inconformidade produz a rebeldia e a vontade de transformar opressão em liberdade.
Por esta razão, continuar a sonhar é preciso.