Democracia em palavras claras: a Política Nacional de Linguagem Simples
Democracia em palavras claras: a Política Nacional de Linguagem Simples.
A Câmara dos Deputados aprovou a versão final do Projeto de Lei nº 6.256/2019 — que institui a Política Nacional de Linguagem Simples para órgãos públicos — após apreciação das emendas vindas do Senado.
A proposta visa eliminar jargões e termos técnicos desnecessários, tornando a comunicação pública mais acessível, transparente e efetiva.
Por que isso importa — um ponto de partida
Antes de tudo, a linguagem que o Estado usa para falar com as pessoas não é detalhe: ela afeta o entendimento de direitos, procedimentos e serviços.
Logo, quando a comunicação é complexa, muitos cidadãos deixam de exercer seus direitos por não entenderem formulários, guias ou orientações.
Assim, a adoção de linguagem simples busca reduzir essa barreira e fortalecer a participação e a transparência.
No Brasil, o PL 6.256/2019 formaliza essa ideia ao estabelecer princípios, diretrizes e procedimentos para as comunicações oficiais.
Onde estamos no processo legislativo (atualização)
- Primeiramente, de autoria da deputada Erika Kokay (PT-DF), o Projeto de Lei 6256/19 contou com substitutivo do deputado Pedro Campos (PSB-PE) e parecer favorável às emendas pela relatora, deputada Lídice da Mata (PSB-BA). (Agência Câmara de Notícias).
- Origem e tramitação: o PL 6.256/2019 foi apresentado na Câmara e já recebeu substitutivo/pareceres ao longo da tramitação. Em 2023 a Câmara aprovou versão do projeto; em 2025 o Senado aprovou emendas ao texto. Como os senadores alteraram trechos, a matéria retornou à Câmara para nova apreciação das emendas — etapa que, na última movimentação pública, resultou na aprovação das emendas e encaminhamento para sanção presidencial. Ou seja: o processo avançou, e a lei está perto de entrar em vigor, caso o Executivo sancione.
- O que mudou nos textos: a princípio, emendas do Senado ampliaram ou detalharam procedimentos e técnicas; a Câmara acatou emendas relevantes — entre elas, mudanças sobre vocabulário e sobre a lista de técnicas obrigatórias nas comunicações.
Lista de técnicas obrigatórias nas comunicações
- Redigir frases em ordem direta.
- Redigir frases curtas.
- Desenvolver uma ideia por parágrafo.
- Usar palavras comuns, de fácil compreensão.
- Usar sinônimos para termos técnicos ou jargões, ou explicá-los.
- Evitar palavras estrangeiras de uso não corrente.
- Organizar o texto de forma esquemática quando cabível — usar listas, tabelas, gráficos.
- Usar linguagem acessível para pessoas com deficiência.
- Evitar palavras imprecisas.
- Testar com o público-alvo se a mensagem é compreensível.
- Organizar o texto para que as informações mais importantes apareçam primeiro.
- Redigir preferencialmente em voz ativa.
- Evitar uso excessivo de substantivos no lugar de verbos (por exemplo: “realização de” → “fazer”).
- Não usar novas formas de flexão de gênero e número da língua portuguesa como “todes”.
- Priorizar versão em língua indígena ou idioma dos destinatários quando se destinar a comunidade indígena.
- Evitar redundâncias e palavras desnecessárias.
- Facilitar a estrutura/ leiaute de modo que o cidadão encontre, compreenda e use a informação.
- Assegurar que as palavras, estrutura e leiaute permitam ao cidadão facilmente encontrar a informação, compreendê-la e usá-la.
O que aprendemos com outros países — lições práticas
A princípio, diversos países e governos já têm políticas, guias ou leis sobre plain language / plain writing. Eis exemplos relevantes:
- Estados Unidos: aprovaram o Plain Writing Act (2010), que exige que agências federais escrevam documentos claros e utilizáveis. O modelo americano combina lei, orientações técnicas e treinamento institucional.
- Reino Unido (GOV.UK): o Governo tem diretrizes robustas de content design e writing for GOV.UK que orientam estrutura, títulos, scannability e linguagem direta. Essas diretrizes mostram como políticas públicas se transformam em práticas digitais padronizadas.
- Canadá, Austrália e outras jurisdições federais/provinciais: mantêm guias, checklists e até padrões de acessibilidade que incorporam plain language; frequentemente, combinam políticas centrais com manuais e formações locais.
Lição curta: lei e diretriz central funcionam melhor quando vêm acompanhadas de: (a) guias práticos, (b) capacitação contínua, (c) mecanismos de governança/monitoramento e (d) testes com usuários reais.
Conclusão — por que vale investir agora
Logo, adotar linguagem simples não é “diluir conteúdo técnico”; é aumentar eficácia, reduzir custos (menos retrabalho e menos atendimento) e fortalecer a confiança pública.
Assim, ao transformar o modo como o setor público fala com as pessoas, as autarquias não apenas cumprem uma obrigação normativa, elas promovem cidadania.
Contudo, como já demonstraram experiências internacionais, a lei funciona melhor quando vem acompanhada de guias práticos, formação e avaliação com usuários reais.
No Brasil, com o PL 6.256/2019 caminhando para sanção, o momento é de preparação ativa: quem se organiza primeiro terá vantagem na implementação e ganhará credibilidade junto à população.
Fontes
- Agência Câmara de Notícias — “Câmara aprova Política Nacional de Linguagem Simples para comunicação pública” (2023).
- Senado Notícias — “Senado aprova uso de linguagem simples em órgãos públicos” (2024).
- Governo Federal — Guia de Linguagem Simples da ENAP e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom).
- Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) — Manual de Linguagem Simples: como tornar a comunicação pública mais clara e acessível (2024).
- Portal GOV.BR — Política Nacional de Linguagem Simples: objetivos, princípios e diretrizes (2024).
- Câmara dos Deputados — Projeto de Lei 6256/2019 e alterações no Senado Federal (2023–2024).
- Instituto de Linguagem Simples — As 18 técnicas de Linguagem Simples (2024).
- Gov.uk — Plain English Campaign e UK Government Digital Service: Writing for GOV.UK (Reino Unido).
- Plain Language Action and Information Network (PLAIN) — Federal Plain Language Guidelines (Estados Unidos).
Conteúdo desenvolvido pela Digital Content Producer Caroline Oliveira, com pesquisa e apoio de inteligência artificial.
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