Privacidade em Xeque: Até Onde Podem Usar Seus Dados?
Privacidade em xeque: até onde podem usar seus dados?
À medida que o digital avança, acumula-se uma regra simples e inevitável: dados são poder. Marcas privadas e instituições públicas coletam, armazenam e usam informações sobre comportamento, localização e preferências. No entanto, esse poder acarreta responsabilidade e, quando mal gerenciado, abre portas para crises de confiança. Neste cenário, a pergunta-chave é: quem estabelece os limites desse uso de dados?
O panorama legal e tecnológico no Brasil e no mundo
No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) entrou em vigor em 2020 e se aplica tanto ao setor privado quanto ao público, estabelecendo que qualquer entidade que processe dados pessoais precisa observar princípios como finalidade, necessidade e transparência.
Além disso, recentemente a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) elevou seu status para agência autônoma pela Medida Provisória 1.317/2025, fortalecendo sua capacidade de fiscalização.
Sobretudo, no âmbito internacional, artigos como o da McKinsey & Company sobre “Data Ethics” destacam que a ética de dados vai além da conformidade legal — envolve confiança, benefício mútuo e governança clara.
Riscos reais e consequências para a comunicação pública
A princípio, quando autoridades locais ou conselhos de classe usam dados sem transparência, os impactos podem ser graves:
- Vazamento ou uso indevido de dados leva a quebra de credibilidade;
- Campanhas segmentadas demais podem gerar sensação de invasão ou viés;
- Falta de clareza sobre quem está usando os dados e para quê abre espaço para desconfiança.
Contudo, no Brasil, auditorias recentes do Tribunal de Contas da União (TCU) verificaram que dezenas de entidades públicas não haviam realizado mapeamento de dados, nem definido órgãos responsáveis, o que configura fragilidade em governança de dados.
Um caso emblemático: em 2024, a ANPD suspendeu a política de privacidade da Meta Platforms no Brasil por utilizar dados de usuários (e não usuários) para treinar modelos de IA, com multa diária de R$50.000.
Boas práticas para marcas e organismos públicos protegerem dados — e reputação
Para evitar crises e construir confiança, é essencial que a comunicação pública e o marketing digital adotem medidas concretas:
- Mapeamento de dados: saber que dados são armazenados, para que uso e por quanto tempo;
- Governança de dados integrada: juntar comunicação, TI e jurídico para definir políticas claras;
- Transparência proativa: publicar relatórios ou notas simples explicando como e por que os dados são usados;
- Consentimento informado e mínimo necessário: recolher apenas o que é essencial e informar de forma compreensível;
- Monitoramento de incidentes: plano de resposta rápida para vazamentos ou uso indevido, com comunicação clara ao público.
Logo, essas ações ajudam a transformar “uso de dados” em ativo estratégico e não em vulnerabilidade.
A privacidade não é o fim do dado — é o começo da confiança
Muitos gestores ainda encaram a privacidade como obstáculo à inovação. Entretanto, ela é uma ferramenta de credibilidade. Quando uma marca ou prefeitura trata os dados com respeito, ela está dizendo ao cidadão: “posso usar suas informações para servir, não para explorar”. Ou seja, o uso ético dos dados não diminui a comunicação, ele a eleva.
Fontes
- “Data privacy and the Brazilian public sector” – IAPP, 16 Out 2025.
- “Data protection laws in Brazil” – DLA Piper, Jan 2024.
- “Data Ethics: What it Means and What it Takes” – McKinsey, 23 Set 2022.
- “The New Rules of Data Privacy” – Harvard Business Review, 25 Fev 2022.
- “Meta Has Been Ordered to Stop Mining Brazilian Personal Data to Train Its AI – TIME, 3 Jul, 2004.
Conteúdo desenvolvido pela Digital Content Producer Caroline Oliveira, com pesquisa e apoio de inteligência artificial.
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