Chatbots com sotaque? Como adaptar IA à linguagem local

Chatbots com sotaque? Como adaptar IA à linguagem local pode soar como uma provocação tecnológica, mas, na verdade, é uma necessidade estratégica.
À medida que prefeituras, conselhos e autarquias públicas adotam assistentes virtuais para melhorar o atendimento ao cidadão, um problema começa a aparecer: a linguagem dos bots é fria, robótica e, frequentemente, distante da realidade local.

E isso tem um custo. Porque quando a resposta automática não soa familiar, ela não gera conexão e sem conexão, não há confiança.

A inteligência artificial entende de palavras. Mas e de cultura?

Muitos órgãos públicos estão implementando chatbots para agilizar respostas, reduzir filas e melhorar a experiência digital.
No entanto, poucos se atentam ao fato de que essas inteligências são, por padrão, treinadas com dados genéricos e linguagem padronizada. Isso significa que, sem ajustes, o chatbot da sua prefeitura vai soar igual ao de qualquer banco.

Agora pense: o cidadão de uma cidade no interior da Bahia espera a mesma linguagem que alguém da capital de São Paulo?
Provavelmente não. A comunicação pública precisa ser local, acolhedora e compreensível no contexto de quem está usando.

Por isso, adaptar a IA à linguagem regional é mais do que uma sofisticação. É uma forma de democratizar o atendimento.

Linguagem formal demais afasta. Mas a linguagem adaptada aproxima.

O desafio está justamente em encontrar um equilíbrio.
Não se trata de ensinar gírias para o robô, nem de exagerar na descontração. Trata-se de fazer com que ele fale como fala a sua cidade. Com clareza, mas com naturalidade.

Para isso, é preciso considerar:

  • O vocabulário mais comum na região;
  • O jeito como as pessoas se referem aos serviços (“posto” ou “UBS”? “remédio controlado” ou “receita azul”?);
  • O tipo de saudação, despedida e até expressões afetivas que fazem sentido para aquele público.

Além disso, o tom pode (e deve) ser moldado: mais acolhedor em canais de saúde, mais direto em serviços de trânsito, mais técnico nos atendimentos de conselhos profissionais.

A mesma tecnologia pode assumir diferentes “vozes”, dependendo do canal e da necessidade.

Como treinar um chatbot com sotaque digital?

A resposta está nos dados.
Quando a instituição coleta registros de linguagem dos atendimentos anteriores — como tickets, e-mails, interações humanas e perguntas frequentes — ela já tem o material necessário para treinar o bot com base na linguagem real dos seus usuários.

Além disso, as melhores plataformas de chatbot permitem configurar:

  • Tom de voz e variações de resposta,
  • Expressões típicas, com sinônimos locais,
  • Traduções de termos técnicos, para que “protocolo” vire “número do pedido”, por exemplo,
  • E até fluxos condicionais que respondem de forma diferente dependendo da localidade.

Isso faz com que o cidadão sinta que está falando com “alguém daqui” — mesmo que seja um robô.

Quanto mais humana a IA parece, mais efetiva ela se torna

O grande segredo da automação inteligente não é parecer perfeita, mas parecer próxima.
Pesquisas mostram que os usuários confiam mais em assistentes digitais quando eles usam uma linguagem clara, gentil e personalizada. Inclusive, erros pequenos são mais aceitos quando a comunicação soa mais “gente como a gente”.

Portanto, ajustar a linguagem do seu chatbot não é perfumaria. É uma estratégia de engajamento e de serviço público qualificado.

Linguagem é conexão

Na comunicação pública, usar inteligência artificial sem adaptar a linguagem ao território é repetir um erro histórico: o de achar que todo cidadão fala igual.
No entanto, cada cidade tem seu jeito, seu ritmo, seu tom. E isso deve estar presente também nos canais automatizados.

Portanto, se a sua equipe está pensando em implementar — ou melhorar — um chatbot institucional, comece se perguntando:
Ele responde como falam as pessoas da nossa cidade?
A resposta pode ser a diferença entre mais um canal digital e um verdadeiro serviço público.

Fontes

  • Microsoft AI Research (2024)“The Role of Tone and Dialect in Citizen-Bot Engagement”
  • NIC.br e Gov.br (2023)Cartilha de Boas Práticas em Chatbots para Serviços Públicos
  • CivicPlus (2024)Designing Local Government Chatbots with Community Identity

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