Seu Conteúdo Digital É Tão Acessível Quanto Sua Calçada?

Seu conteúdo digital é tão acessível quanto sua calçada?
A pergunta pode soar provocativa, mas ela toca em um ponto sensível e urgente. Afinal, de que adianta adaptar rampas, instalar pisos táteis e criar canais de atendimento se, no digital, boa parte da população continua excluída?

Hoje, a acessibilidade vai muito além das ruas. Ela começa — e muitas vezes termina — na forma como as instituições se comunicam online. Ou seja, se o site, os posts, os vídeos e os documentos não forem pensados para todos, a exclusão continua. Só muda de ambiente.

Comunicação pública precisa ser inclusiva. Ou ela falha no seu papel.

Uma prefeitura, conselho ou autarquia existe para atender o público. Portanto, se a informação divulgada não pode ser compreendida ou acessada por todas as pessoas, ela não está cumprindo sua função básica.

Infelizmente, muitos órgãos ainda pensam em acessibilidade como um tópico técnico — e não como uma estratégia de comunicação. Contudo, a verdade é que incluir é comunicar. E comunicar, em 2025, exige pensar em diversidade de corpos, formas de leitura, habilidades e contextos de acesso.

Afinal, nem todo mundo enxerga, ouve, lê com facilidade, ou tem o mesmo tempo e repertório para interpretar uma linguagem institucional padrão.

A calçada já avançou. Mas e o site?

É comum ver avanços físicos em acessibilidade, como prédios adaptados, intérpretes em eventos e material impresso em braille.
Entretanto, quando se trata de digital, os obstáculos continuam:

E, muitas vezes, nenhuma dessas barreiras é percebida por quem produz o conteúdo. Isso porque a acessibilidade ainda não faz parte da rotina da comunicação pública — e precisa fazer.

A boa acessibilidade não é visual. É funcional.

Antes de mais nada, é preciso entender que acessibilidade não é sinônimo de “design bonito” nem de “materiais especiais”. Acessibilidade é, acima de tudo, funcionalidade universal.

Isso quer dizer que o conteúdo precisa:

  • Ser lido em voz alta por ferramentas,
  • Ter contraste adequado para quem tem baixa visão,
  • Usar linguagem simples para quem tem dificuldade cognitiva,
  • Ser direto o suficiente para quem está com pressa ou ansiedade,
  • E ser visualmente compreensível para quem não lê bem textos longos.

Além disso, pensar em acessibilidade beneficia todo mundo — inclusive quem não tem nenhuma deficiência. Afinal, quem nunca tentou assistir a um vídeo sem áudio no transporte público? Ou quem já não ficou confuso ao abrir um PDF mal formatado no celular?

Tornar o digital acessível é mais fácil do que parece

Ao contrário do que muitos pensam, tornar a comunicação digital acessível não é caro nem complicado. Requer apenas planejamento e atenção desde a origem do conteúdo. Veja alguns pontos práticos:

  • Use texto alternativo (alt text) em todas as imagens;
  • Legende os vídeos e, sempre que possível, inclua intérprete de Libras;
  • Produza textos com estrutura lógica, frases curtas e palavras simples;
  • Evite jargões e linguagem excessivamente formal;
  • Adote contraste adequado e tipografia legível nos posts;
  • Teste seu site e seus documentos em leitores de tela.

Além disso, ferramentas gratuitas como o WAVE Web Accessibility Tool já fazem boa parte da checagem técnica — sem precisar de equipe especializada.

Plot twist: acessibilidade também é engajamento

Muitas instituições ainda tratam a acessibilidade como uma “obrigação legal”. Mas, na prática, ela é também uma oportunidade estratégica.

Ao tornar o conteúdo mais acessível, você atinge mais pessoas. E quanto mais gente entende, compartilha e confia, mais força a sua comunicação ganha.

Além disso, demonstrar preocupação com a inclusão aumenta a reputação institucional. Mostra que a instituição se importa de verdade com todos os públicos — não só com os que gritam mais alto.

Conclusão

Seu conteúdo é tão acessível quanto sua calçada?
Se não for, a boa notícia é que você pode começar a mudar isso agora.

Basta revisar seus materiais com atenção, ouvir pessoas com deficiência e fazer da acessibilidade uma prática diária — e não uma pauta pontual.

Lembre-se: a inclusão começa na forma como você convida alguém a participar. E, se esse convite for escrito numa linguagem que só poucos entendem, ele não foi feito de verdade.

Fontes:

  • W3C. Web Content Accessibility Guidelines (WCAG) 2.2.
  • Movimento Web para Todos (MWPT). Guia de boas práticas para conteúdo acessível no Brasil.
  • Unesco (2024). Diretrizes globais para acessibilidade digital em serviços públicos.

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