A Batalha da Atenção: Como Marcas e Governos Disputam Seu Tempo

A batalha da atenção: como marcas e governos disputam seu tempo.
Vivemos na era em que a atenção se tornou o bem mais valioso do mundo digital. Logo, plataformas, marcas e até governos lutam diariamente por segundos da nossa concentração — e o cidadão, antes espectador, virou o ativo mais cobiçado da comunicação. A questão é: quem consegue realmente captar essa atenção em meio ao ruído constante?

A atenção virou moeda — e está em crise

Se antes a publicidade comprava espaço, hoje ela precisa conquistar tempo. Segundo dados da Microsoft (2024), o tempo médio de foco de um usuário em um conteúdo digital caiu para 8 segundos, o menor já registrado. Em outras palavras, a disputa não é mais por audiência, e sim por atenção sustentada.

As plataformas entenderam isso há muito tempo. TikTok, YouTube Shorts e Instagram Reels foram criados para prender o olhar, enquanto governos e instituições ainda tentam adaptar discursos longos a telas que pedem dinamismo. Assim, a disputa pela atenção virou também uma questão de design e estratégia de linguagem.

O que é, de fato, a economia da atenção

O termo “Economia da Atenção” foi popularizado por Herbert Simon, Nobel de Economia, que alertou: “A riqueza de informação gera pobreza de atenção.”
Ou seja, quanto mais conteúdo é produzido, mais difícil é reter o interesse do público. Hoje, cada notificação compete com discursos oficiais, campanhas de saúde e anúncios públicos.

Empresas privadas já perceberam isso e investem pesado em experiências personalizadas. Governos, por outro lado, ainda falam para todos, e por isso, acabam não falando com ninguém.

A batalha pelo olhar — e o custo invisível da distração

De acordo com estudo da Nielsen (2023), 80% das pessoas abandonam vídeos institucionais antes dos primeiros 10 segundos. Isso significa que o formato tradicional de campanhas públicas, com vinhetas, falas longas e linguagem impessoal, perdeu sua eficácia.

Enquanto isso, marcas privadas criam micro campanhas de 15 segundos com humor, emoção e linguagem visual leve. Essa diferença explica por que um vídeo de skincare atinge mais cidadãos do que uma campanha de vacinação.

E há um detalhe importante: atenção é poder político. Quem controla o fluxo de informações, molda percepções. Por isso, dominar técnicas de narrativa digital não é só marketing: é estratégia de governança.

Estratégias que funcionam na prática

Governos e conselhos profissionais podem e devem competir nesse campo com inteligência. Veja como:

  1. Personalização segmentada: use dados (com transparência) para criar campanhas que falem diretamente a grupos específicos: jovens, idosos, profissionais de saúde, etc.
  2. Narrativas curtas e emocionais: transforme relatórios e programas em micro-histórias humanas, com rostos e emoções reais.
  3. Reaproveitamento estratégico: transforme uma mesma pauta em vários formatos — Reels, stories, podcast curto, post carrossel — para multiplicar alcance sem gastar mais.
  4. Testes constantes: use análises semanais para entender o que prende ou dispersa o público. Pequenos ajustes podem gerar saltos grandes de engajamento.

No entanto, essas ações não exigem grandes investimentos, apenas mudança de mentalidade: parar de falar como instituição e começar a conversar como marca pública.

Case inspirador: o sucesso do NHS no Reino Unido

O NHS (National Health Service) entendeu cedo a lógica da atenção. Durante a pandemia, criou campanhas curtas no TikTok e no Instagram com influenciadores de saúde, mostrando o cotidiano de enfermeiros e a importância das vacinas.

O resultado? Em 30 dias, a hashtag #JoinTheNHS acumulou mais de 120 milhões de visualizações, atingindo o público jovem que antes ignorava os canais oficiais. A lição é clara: comunicação pública eficaz fala a língua das pessoas, não a burocracia.
📎 Fonte: The Guardian, 2024.

Quem domina o tempo, domina a narrativa

O verdadeiro poder da comunicação digital não está em quem fala mais alto, mas em quem sabe prender o olhar certo, na hora certa. A democracia moderna depende de atenção — e quem desperdiça a do cidadão perde relevância política.
No fim, tanto marcas quanto governos competem pelo mesmo ativo: a confiança. E, na economia da atenção, a confiança é o único investimento que realmente rende.

Fontes e referências

  • Microsoft Attention Study, 2024.
  • Nielsen Global Video Report, 2023.
  • Simon, H. (1971). Designing Organizations for an Information-Rich World.
  • The Guardian (2024). NHS TikTok Campaign Shows Power of Short-Form Health Communication.
  • TED: Tristan Harris, The Attention Economy (2023).

Leia também:

Somos uma agência identificada com a cidadania. Com gente que trabalha, estuda, ama, cresce e participa da vida comunitária.