Lives públicas: mais participação ou só transmissão?

Lives públicas: mais participação ou só transmissão?
A pergunta é provocativa, mas necessária. Nos últimos anos, as transmissões ao vivo se tornaram obrigatórias para cumprir a Lei de Acesso à Informação. Audiências, reuniões e eventos ganharam espaço no YouTube, Facebook e até Instagram. No entanto, será que elas realmente ampliaram a participação do cidadão ou viraram apenas mais uma formalidade digital?

Por que as lives surgiram como solução?

Antes de tudo, precisamos lembrar que as lives foram criadas para aproximar. A ideia era clara: se o cidadão não pode ir à Câmara, ele pode assistir de casa. Essa promessa parecia perfeita para aumentar a transparência e o controle social. Além disso, a pandemia acelerou essa tendência, transformando a transmissão online em regra.

Porém, com o tempo, ficou evidente que transmitir não significa engajar. Muitos órgãos públicos passaram a fazer lives apenas para cumprir tabela. O resultado? Vídeos longos, técnicos e sem interação real. Assim, a audiência caiu e a sensação de distância permaneceu.

O problema da transmissão unilateral

Quando uma live se resume a falar e não ouvir, ela perde sua essência. Audiência pública, por exemplo, deveria ser um espaço de diálogo. No entanto, o que vemos é uma sequência de discursos, sem resposta às perguntas do chat ou espaço para opiniões. Consequentemente, o cidadão percebe que sua participação é simbólica.

Esse comportamento mina a confiança. Afinal, se ninguém responde, por que perder tempo comentando?. E se o evento é longo, sem linguagem acessível, a desistência é quase imediata.

Como transformar a live em interação real?

O segredo está no planejamento. Em vez de apenas transmitir, é preciso desenhar a live para participar. Como?

  • Definindo momentos de interação: perguntas respondidas ao vivo.
  • Usando linguagem clara: evitar termos técnicos e burocráticos.
  • Criando canais complementares: enquetes no WhatsApp ou Instagram antes e depois da live.

Além disso, a tecnologia pode ajudar. Ferramentas de moderação e IA organizam perguntas e destacam temas mais mencionados, facilitando respostas durante a transmissão. Assim, a live deixa de ser um monólogo e vira uma conversa pública.

A live não é sobre ver, é sobre ser ouvido

Aqui está o ponto que muitos ignoram: o cidadão não quer só assistir, quer participar. Quando a gestão entende isso, muda a lógica da transmissão. A live passa a ser espaço de construção coletiva, não apenas de exibição institucional. Caso contrário, ela será apenas um “arquivo digital” que poucos vão assistir depois.

Conclusão

Lives públicas: mais participação ou só transmissão?
A resposta depende da escolha de quem organiza. Se a intenção é engajar, é preciso interatividade, acessibilidade e diálogo. Afinal, transparência não é mostrar tudo, é permitir que todos façam parte. E isso só acontece quando a comunicação pública deixa de falar sozinha e começa a ouvir.

Referências

  • OECD (2024). Digital Government: Engagement Strategies for Public Institutions.
  • GovTech Insights (2023). Interatividade em Comunicação Pública.
  • ANPAD (2024). Transformação Digital no Setor Público.

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