
O Novo Influencer da Sua Cidade Pode Ser Um Robô (E Isso Não É Ruim)
Em uma campanha de incentivo à coleta seletiva, uma prefeitura do Sudeste decidiu apostar em algo inusitado: um influenciador digital criado por inteligência artificial.
Com roupas coloridas, fala jovem e vídeos bem-humorados, o “Léo Sustentável” passou a dar dicas de reciclagem e a responder dúvidas no Instagram da prefeitura.
No início, a população achou estranho. Mas em menos de duas semanas, o número de compartilhamentos dobrou. E o mais surpreendente: adolescentes começaram a interagir diretamente com o personagem virtual.Não era uma pessoa.
Mas era alguém em quem o público confiava.
Como funcionam os influenciadores criados por IA?
Esses “influencers virtuais” são personagens totalmente digitais criados com IA generativa (texto + imagem + voz), com personalidades definidas, aparência visual e tom de voz programados para se conectar com públicos específicos.
Empresas como Synthesia, HeyGen, Replika e startups de avatares 3D como a Soul Machines já criam esses personagens para marcas, serviços e até órgãos públicos em outros países【Fonte: The Verge, 2024】.
Eles são programáveis, não erram discursos, não entram em polêmicas e podem:
- Apresentar vídeos educativos;
- Responder perguntas básicas com empatia;
- Aparecer em posts, reels e até podcasts;
- Ser customizados por nicho (juventude, idosos, mulheres, etc).
Na prática, eles funcionam como porta-vozes institucionais digitais, podendo ter nomes e rostos adaptados à identidade de cada município ou conselho profissional.
A inovação que assusta — mas pode aproximar
A ideia de um “robô” representando um órgão público parece, à primeira vista, artificial ou até impessoal.
Mas o ponto aqui é justamente o oposto: a IA pode ajudar a humanizar o que antes era distante, frio e inacessível.
Em 2023, a influenciadora digital Lu do Magalu (apesar de não ser 100% IA) foi eleita uma das personalidades mais confiáveis do Brasil.
Se uma marca privada consegue essa conexão, por que um órgão público não poderia fazer o mesmo?
Em alguns conselhos profissionais da Europa, avatares digitais já dão orientações básicas sobre registro de documentos e uso de sistemas. O resultado? Redução no tempo de atendimento e aumento de engajamento com públicos jovens【Fonte: McKinsey, 2024】.
O equívoco silencioso: pensar que IA é só robô sem alma
O que muitos gestores ainda não perceberam é que usar influenciadores digitais de IA não é substituir pessoas — é expandir as possibilidades de relacionamento.
Deixar de explorar essas ferramentas pode:
- Tornar a comunicação institucional antiquada;
- Afastar os mais jovens, que já convivem com IA em seu dia a dia;
- Impedir campanhas públicas de alcançarem o alcance necessário.
E o pior: deixar o campo aberto para conteúdos falsos ou desinformação, que usam estética parecida para manipular a opinião pública.
Conclusão: Quem fala com o jovem precisa falar como o jovem
Criar um influenciador digital público pode parecer ousado — e é.
Mas mais ousado é continuar falando sozinho em redes sociais onde a linguagem mudou, o formato mudou e a atenção está mais curta do que nunca.
O futuro da comunicação pública não está em parecer futurista.
Está em conseguir entregar mensagens humanas, mesmo que por meios tecnológicos.E se o novo embaixador da sua cidade tiver voz gerada por IA e cara de avatar… que seja.
Desde que ele fale a verdade, com respeito e clareza — ele será ouvido.
Fontes:
- The Verge – Virtual Influencers Are Getting Real Attention
- McKinsey & Company – AI Avatars and the Future of Engagement
- Soul Machines – https://www.soulmachines.com
- Synthesia – https://www.synthesia.io