
A Comunicação Pública Está na UTI. E a IA é o Remédio
Era uma sexta-feira à tarde e a equipe de comunicação da Prefeitura de São Benedito corria para divulgar um aviso sobre mudança no trânsito.
O texto saiu formal, cheio de termos técnicos, publicado no site oficial — um portal pesado, difícil de navegar, que quase ninguém acessava.
Resultado?
No dia seguinte, filas quilométricas, buzinas, confusão — e muita reclamação nas redes sociais.
O aviso tinha sido publicado.
Mas não tinha sido comunicado.
Essa cena, comum em centenas de municípios brasileiros, revela uma verdade desconfortável:
A comunicação pública, do jeito tradicional, está em estado crítico.
Por que a comunicação pública está falhando?
Diversos estudos de entidades como a OECD e a Unesco apontam as principais razões:
- Excesso de linguagem técnica e pouco foco no cidadão.
- Canais digitais ultrapassados ou pouco funcionais.
- Respostas lentas e desconectadas do ritmo das redes sociais.
- Falta de segmentação e personalização das mensagens.
Em tempos de hiperconectividade, a lógica mudou:
As pessoas esperam ser atendidas na hora, no canal que elas escolherem, com a linguagem que elas entendem.
Se a comunicação pública não acompanha essa nova realidade, ela simplesmente é ignorada.
O que a Inteligência Artificial tem a ver com isso?
A Inteligência Artificial (IA) pode ajudar a revitalizar a comunicação pública em várias frentes:
- Produção automatizada de conteúdo simplificado e segmentado (ex: textos de fácil leitura, adaptados por público-alvo).
- Análise de sentimento para entender em tempo real o humor da população em relação a temas sensíveis.
- Automação de respostas básicas no atendimento ao cidadão (liberando os servidores para casos mais complexos).
- Monitoramento preditivo de tendências, ajudando a antecipar crises e corrigir rotas.
Em países como Canadá, Estônia e Dinamarca, órgãos públicos já usam IA para tornar a comunicação mais próxima, mais humana e mais eficiente【Fonte: OECD – AI in Public Sector】.
O que é preciso entender
Mas aqui está a verdade dura:
Só adotar IA não vai salvar a comunicação pública.
A tecnologia é apenas a ferramenta.
O que precisa mudar é a cultura.
Se a prefeitura ou o conselho continuar pensando como em 1990 — publicando PDFs, textos burocráticos, comunicados que ninguém lê —, não importa o quão moderna seja a ferramenta:
o problema vai continuar.
É como dar um desfibrilador de última geração para quem não sabe nem fazer massagem cardíaca: a chance de sucesso é mínima.
Como a IA pode ser usada com inteligência real
1. Linguagem cidadã:
Usar a IA para criar conteúdos mais claros, simples e objetivos, adaptados ao perfil de quem recebe.
2. Atendimento em tempo real:
Implementar chatbots para resolver rapidamente questões simples e agilizar a relação com o público.
3. Diagnóstico contínuo:
Usar IA para analisar interações e sentimentos nas redes sociais, antecipando demandas e prevenindo crises.
4. Transparência ativa:
Utilizar IA para gerar relatórios claros sobre as ações públicas — e divulgar de forma acessível, não apenas por obrigação legal.5. Capacitação humana:
Treinar a equipe de comunicação para interpretar os dados gerados pela IA e agir com empatia e estratégia.
Conclusão: A comunicação pública precisa de alta tecnologia, mas também de alta humanidade
Se usada com responsabilidade e inteligência, a Inteligência Artificial é sim o remédio que a comunicação pública precisa.
Não para substituir servidores públicos, mas para potencializar a conexão real com o cidadão.
No fim das contas, o futuro da comunicação institucional pertence a quem conseguir ser rápido como um algoritmo — e humano como um bom vizinho.
Fontes:
- OECD – AI in the Public Sector 2024
https://www.oecd.org/gov/digital-government/ai-in-the-public-sector.htm - UN E-Government Survey 2022
https://publicadministration.un.org/egovkb/en-us/Reports/UN-E-Government-Survey-2022
- Unesco – Digital Governance and Citizen Communication
https://en.unesco.org/themes/ict-education/digital-governance