Muitos de nós temos algum professor(a) que a gente nunca esquece.
Alguém que nos inspirou, motivou, valorizou, enfim… No meu caso, foram vários, mas a primeira professora, sem dúvida, é a que lembro com mais carinho.
A história que vou contar aqui não se trata de nenhum deles. É sobre um professor que teve uma história inesquecível.
Ele mesmo pediu para que o chamássemos de Toninho e o tratássemos por “você”. Muito estranho para a época, fim da década de setenta, ainda em meio a Ditadura.
Toninho, como gostava de ser chamado, em sua aula de Inglês, em plena sétima série ginasial, como falávamos na época, pediu para que formássemos um círculo.
Anunciou-se como Chacrinha e colocou uma fileira de carteiras escolares, dizendo que era o lugar dos jurados. E começou a selecionar um a um, dizendo assim: – Você é a Elke Maravilha. Você, o Pedro de Lara. Você, a Aracy de Almeida. E por aí adiante…. E na sequência chamava alunos para se apresentarem no centro da roda para cantar, dançar ou declamar alguma poesia…. Detalhe: era nosso primeiro ano de Inglês.
E assim se seguiu no primeiro semestre e no início do segundo.
Um dia, o entusiasmado professor adentrou a sala feito um touro bravo. Bufava pelas ventas, revirava os olhos e esbravejava dizendo: – Por causa de uns (ouvi dizer que alunos foram delatar o professor na diretoria) agora todos estão ferrados comigo. Vão decorar cem verbos regulares e cem verbos irregulares para prova oral na aula que vem.
Resultado: todos fomos para recuperação.
No exame final eu consegui fazer uma boa prova, passando de ano por um triz. Mas muitos alunos foram reprovados.
O professor Antonio, que já não tinha mais nada de Toninho, comprou uma Brasília zero quilômetro, de cor preta, com rodas cromadas, vidros escuros, toda reluzente, passando a ir com ela para a escola. Dando adeus ao transporte público por pouco tempo. Alunos, embriagados pelo ódio e movidos por vingança, deferiram toda ira em sua estimada caranga.
Quebraram vidros, amassaram a lataria, arranharam as laterais, furaram os pneus, fizeram um estrago tão grande que, se a mesma tivesse despencado de um precipício, salvo pegar fogo, não teria ficado tão arrebentada.
Toninho, ou melhor, o professor Antonio, passou a vir para a escola novamente de transporte público. Depois de tudo isso não veio mais. Foi atropelado no percurso do trabalho.
E, apesar de não ter entendido tudo direito, o professor Toninho me deixou uma grande lição.