NOS FALTA PÃO

Dos alimentos que fazem parte da dieta da maioria das pessoas, o pão é um dos que, além de
apresentar inúmeras variedades, ainda é um produto barato e acessível a quase
todas as mesas. Mas, na história da humanidade, ele é muito mais que alimento, o
pão tem a simbologia da partilha e da comunhão.

Junte um pouco de farinha de trigo, água, fermento e sal e é só seguir a receita e logo vem o
pão quentinho, alimento para matar a fome. Ninguém vive só de pão, é verdade,
mas de tão simples e barato, ele deveria ser um alimento de direito universal,
deveria ter um artigo nas Constituições
dos países que garantisse o pão de cada dia na mesa de cada um. Em tempo: 
garantir o pão não é dar o pão, é criar condições para se ganhar o pão.

E mais, quando se fala em garantia de direitos, ganhar o pão, em metáfora óbvia, está no lugar
também de assegurar todos os outros direitos, como educação, saúde, moradia,
saneamento básico. É o básico mesmo, porque ninguém consegue viver com
dignidade se for só a pão e água. “O pão nosso de cada dia dai-nos hoje”, diz
respeito às necessidades humanas, inclusive o alimento espiritual.

O pão, antes de qualquer outro, é o primeiro da lista dos alimentos que compõem a nossa memória afetiva. É como se estivéssemos participado da partilha entre Cristo e seus
apóstolos. A cena da divisão do pão faz parte daquelas histórias que passam de
geração para geração. É algo que nunca será esquecido…. o pão será sempre
lembrado como alimento sagrado. 

E perdão às demais ideologias, mas o pão é um alimento de conotação socialista! Quando na
Última Ceia, Jesus Cristo partilhou o pão com seus 12 apóstolos, ele não deu um pedaço maior ao apóstolo João e um menor a Pedro. Segundo as Escrituras Sagradas, o pão foi dividido em partes iguais, sem nenhuma distinção: todos iguais, partes iguais. Aos 12 apóstolos
foi dada a oportunidade de obter, de forma justa, o produto da partilha.

A receita é milenar, mas as diferentes culturas mundiais criaram uma infinidade de
variações do alimento, seja feito de trigo, milho, mandioca,
centeio, sem nunca deixar de lado memória do sagrado, que é invisível no
preparo, mas está lá, pronto para a mágica transformação. Impressionante é o
fascínio que o pão que acaba de sair do forno causa nas pessoas, é de fazer brilhar
os olhos. Como é que de um punhado de farinha e de outros ingredientes tão
básicos é possível a transformação em um alimento tão bonito? O pão é bonito
fisicamente e é bonito o que ele traz consigo. A sina do pão é ser a celebração
da vida. Não! O pão é a própria vida! Tanto que as religiões cristãs têm o pão
como símbolo da ressurreição. Ele recebe a honrosa missão de representar o
corpo de Cristo nas cerimônias religiosas mais especiais. 

“Eu sou o pão da vida”(João 6, 48). Mas em pleno século XXI ainda falta pão para alimentar o
corpo e a alma. Só no Brasil, 13 milhões de pessoas passam fome e, segundo a
FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) um bilhão
de pessoas vivem em desnutrição crônica no mundo. Vergonhoso constatar que nos
falta mais que o alimento e que ele só falta porque onde faltam solidariedade e empatia sobram diferenças e abismos sociais. Onde falta ação dos governos, sobram ganância privada e concentração de renda. Há algo de muito errado em faltar pão!

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SILENE SANTOS

Jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP), possui pós-graduação em Globalização e Cultura pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Possui 23 anos de experiência em Comunicação Social e atua no Atendimento às contas públicas da Área Comunicação.

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