Já aviso que estou usando nomes fictícios para contar uma história real. Qualquer semelhança com a realidade você pode substituir pelos nomes que quiser.
Levi acordou tenso naquela manhã, pois sabia que teria um dia bem estressante pela frente. Era o aniversário de Dona Carmen, sua sogra. Ela havia implorado para que ele e Jéssica, sua esposa, fossem para a festa de aniversário. E mesmo sabendo que Jéssica havia brigado e cortado relações com mais da metade dos parentes, devido a última eleição, eles aceitaram o convite, muito mais por consideração a Dona Carmen.
Levi sempre teve uma vida solitária por isso não ligava muito para todo esse papo de parentes, já Jéssica era bem apegada a mãe e considerava tios, tias, primas e primos como parte integrante da família. Até esta última eleição.
Jéssica passou o dia alternando o pensamento em alegres lembranças da infância com a Dona Carmen e as dolorosas lembranças das ofensas que havia recebido dos seus tios, tias e primos há menos de um mês. E todos eles estariam na festa de aniversário da sua mãe.
No carro, Jéssica conversava em voz alta com ela mesma tentando achar respostas rápidas e concretas caso alguém resolvesse falar sobre política. A cada dez minutos perguntava a Levi se estava tomando a decisão certa em ir à festa. Levi sempre respondia que independente do que ocorresse ele estaria ao seu lado para qualquer decisão.
Chegando na festa, uma mão segurava a outra, uma enorme respirada antes de tocar a campainha e pronto. Agora não tem mais volta.
– Oi, filha. Que bom que vieram. Entrem, entrem. O pessoal está na sala.
O casal entra na sala e por incrível que parece não há brigas, muito menos ofensas. Só uma grande recepção de toda família, com abraços, quitutes e cerveja. “Quanto tempo, hein?”. “Puxa uma cadeira, senta aí.”, “Como está o trabalho?”. Jéssica e Levi baixam a guarda e aproveitam o momento.
Após uma hora, Dona Carmen chama Jéssica até a cozinha, ficam lá por uns bons vinte minutos e depois voltam. Jéssica esconde as lágrimas, senta ao lado de Levi e aperta sua mão com força. Levi retribui como quem diz, não vou te largar. As próximas cenas se resumem a um sorriso forçado de Jéssica para todas conversas triviais dos seus tios, tias e primos. Música de parabéns, Dona Carmen assopra as velinhas, corta o bolo, todos abraçam a aniversariante e, por fim, se despedem.
No carro, Jéssica desaba no choro. Minha mãe disse que eu sou ingrata por brigar com todo mundo e afastar a família inteira. Disse que se não fosse por ela, para unir todo mundo novamente, nem festa ela teria. Você acha que minha mãe tem razão? Acha que eu sou uma filha ingrata?
Levi olha para a esposa com carinho e diz – Jé, conversei com seu primo e ele me disse “O que vocês estão fazendo aqui? Você não acha melhor a Jéssica não aparecer por um tempo? O clima não está nada bom para ela. É que o pessoal finge bem.”
Os dois se olham por uns 30 segundos e depois caem na gargalhada. Jéssica diz: Já pensou como será no Natal?