AS FAKES NEWS CHEGARAM PARA FICAR OU SEMPRE EXISTIRAM?

Interessante observar que para algo que a princípio sempre existiu, deu-se um novo nome e, de quebra, um novo conceito. Agora mentir é produzir fake news. Inventar coisas a respeito das coisas ou de pessoas não é mais mentira. É fake news. Mas assim como tudo neste mundo, há idiossincrasias.

Explico. Existem mentiras para todos os gostos, como as mentiras socialmente aceitas, por exemplo, as mentiras sinceras, parafraseando o Cazuza, quando você não quer machucar uma pessoa que gosta… mentiras cruéis, quando prejudica alguém ou muita gente, podendo até ser um crime…  mentiras políticas, para atacar adversários e destruir reputações… E por aí vai…

Talvez exista algumas diferenças entre as fake news e a mentira tradicional, porque a primeira se dá, geralmente, no ambiente das redes sociais e a outra nas redes de ambientes sociais.

Mas, as fake news podem ser criadas de várias formas e por muita gente ou veículos. Não dominam só as mídias sociais como muitos acreditam. E tão pouco foram criadas por elas. As fake news são mentiras veiculadas por uma multiplicidade de meios e que se adaptaram como uma luva às novas tecnologias, mas, antes de tudo, sempre existiram. Mudou a mídia. Ou melhor, acrescentou-se uma nova mídia (digital) às tradicionais que há muito tempo praticam, de alguma forma, a “arte de mentir”. E muitas vezes enganar, omitir ou distorcer situações que também podem ser encaradas como fake news disfarçadas. Os exemplos são fartos, é só procurar.

Vale lembrar que as formas de comunicação têm mudado muito ao longo dos últimos anos com a Internet, que subverteu as lógicas da comunicação tradicional. Se antes havia um público passivo, a espera das informações por meio de uma estrutura de comunicação verticalizada, hoje é enorme o número de pessoas que descobriram que podem ser protagonistas da informação (ou da desinformação intencional), da verdade ou da mentira, do fato ou do fake. Querem participar de qualquer jeito, expor opiniões, fazer análises, interagir em tempo real nas mídias digitais, mesmo que não tenham compromisso com nada e informação consistente com coisa alguma.

Há vários questionamentos nessa discussão. Um ponto pacífico é que a denominação “fakes news” só pode ser usada se realmente a mentira for descoberta. E assim, como saber que uma fake news é realmente uma mentira? Primeiramente, vejamos, com a colaboração de um dicionário da língua portuguesa, o que é verdade e o que é mentira.

VERDADE: que está em conformidade com os fatos e/ou com a realidade.

MENTIRA: afirmação que não condiz com a verdade nem com a realidade. Ação ou efeito de mentir; engano, ludíbrio.

Difícil. Hoje, nas redes sociais, se não podemos provar que um determinado post está em conformidade com os fatos (VERDADE) ou que não condiz com a realidade (MENTIRA), ultrapassamos os limites da pós-verdade e caminhamos a passos largos para a não verdade. Ou seja, nada é mentira e nada é verdade. É uma coisa meio à semelhança da teoria da relatividade de Einstein, que coloca em questão tempo e espaço.

O importante é perceber que a verdade relativizou-se também e, atualmente, ela existe apenas a partir de um complexo encadeamento de questões subjetivas: quem passou a informação, qual arcabouço cognitivo de quem lê ou escuta, a que espectro político pertence, seu controle emocional, capacidade de relacionar fatos ou informações e por aí vai. Dependendo do interlocutor, qualquer coisa pode ser realidade ou não.

Por isso, depois do Fim da História, apregoado pelo cientista político Francis Fukuyama, em 1992, afirmando que “a democracia liberal pode constituir o ponto final da evolução ideológica da humanidade e a forma final de governo humano e, como tal, constitui o fim da história”, podemos também dizer que a verdade acabou. Pelo menos como conceito puro e inabalável como a conhecíamos há alguns anos.

Assim, estamos caminhando para um mundo que não tem história e nem verdade. Não sei se isso é bom ou é mau. Se é verdade ou é mentira. Mas o certo é que, como diria Millôr Fernandes, “as pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades”.

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EMILIO ALONSO

Jornalista e diretor da Área. Cursou a Escola Politécnica da USP, mas percebeu a tempo que gostava mesmo de comunicação. Formou-se em jornalismo pela Cásper Líbero e acabou tornando-se publicitário.

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